Economia

Arroba do boi chega a preço histórico e consumidor final tem aumento de 18%

Demanda internacional em alta, baixa oferta de animais para abate e alto custo de produção também oneram o pecuarista

26 FEV 2022 • POR Redação/EC • 18h25
Foto: Divulgação

O mercado da arroba do boi gordo atingiu uma marca histórica na segunda-feira (21), de R$ 343,67, ou US$ 67,65 no fechamento do dia. O preço, que apresentava alta nos últimos três anos, atingiu um patamar nunca antes visto.  

Na outra ponta da cadeia, o consumidor sul-mato-grossense arca com alta de 18% nos últimos 12 meses, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com o boletim da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Sistema Famasul), o corte traseiro com osso foi a R$ 25,85 o quilo, valorização de 18,98% ante os R$ 21,73/kg de janeiro. Já o corte dianteiro com osso registrou alta de 7,50% e atingiu R$ 17,54/kg.  

Especialistas ouvidos pelo Correio do Estado elencam entre os principais motivos para o aumento da arroba e do preço final ao consumidor a demanda internacional em alta; a baixa oferta de animais para abate; e o custo de produção nas alturas, em decorrência da seca.  

O titular da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Jaime Verruck, explica que o primeiro ponto para entender essa marca é falar do contexto no começo de 2022.  

“Não tivemos recuperação da oferta por causa da seca e estamos com baixa disponibilidade de animais. Estamos com oferta menor do que deveríamos estar neste período”.  

Com as chuvas de dezembro e janeiro 50% abaixo do esperado para o período, a pastagem também passou a ser um problema na fase de engorda do gado. Com isso, mais produtores estão recorrendo ao confinamento.  

“[No confinamento] subiu o preço por causa do milho, do custo de produção total e a disponibilidade de animais é menor. O resultado é que o frigorífico que deveria abater 700 [cabeças] está abatendo 400”, explica Verruck.  

CONFINAMENTO

Presidente do Sindicato Rural de Campo Grande, Alessandro Coelho, segue a mesma linha e afirma que há um problema com o gado que deveria atingir a marca de 15 arrobas para chegar ao confinamento.  

Coelho revela que a seca no começo do ano criou um período de lacuna na produção de gado de corte. Conforme o dirigente, a seca dificultou o desenvolvimento da pastagem e, consequentemente, a engorda.  

A tendência, segundo ele, é de que os produtores enviem a boiada para o confinamento um ou dois meses antes do previsto. “Por causa desse período de lacuna em que estamos, os pastos não conseguiram contribuir para o processo de engorda”.  

“Então, a ideia é que eles comecem a desocupar o pasto já em março e abril, consigam pegar um fim da temporada de chuva em março para reformar a pastagem, ao contrário dos outros anos, quando o processo era feito em maio e junho, no começo do período de seca”, analisa Coelho.  

A economista Adriana Mascarenhas ainda diz que a seca, além de afetar o processo de engorda, contribui no processo inflacionário dos insumos ligados à pecuária.  

“Não está barato fazer a engorda, veja o [aumento] no preço da soja e do milho, principais insumos para a suplementação. Esses dois fatores são preponderantes na formação do preço da arroba ”.

Alessandro Coelho revela que isso tem pressionado o lucro do produtor. Nos últimos 12 meses, os custos de produção para o pecuarista dobraram, segundo levantamento da instituição.  

“Nos últimos 12 meses, os custos de insumos da pecuária subiram por volta de 100% na média, só o arame subiu mais de 300%. Isso que ainda tem o tema do milho e da soja, que pressionam o preço ainda mais para cima”, ele se refere às altas da saca do milho e da soja, insumos utilizados na suplementação utilizada no confinamento.  

Jaime Verruck afirma que, apesar das dificuldades e desafios que o mercado impõe ao pecuarista, o momento é positivo para aqueles que conseguiram se organizar.  

“O preço é bom para vender se ele tiver condições de reinvestir, mas a disponibilidade é baixa, não são todos que vão se apropriar”, finaliza.  

EXPORTAÇÕES

A carne bovina atingiu a marca de exportação de US$ 614,111 milhões nos primeiros 14 dias úteis de fevereiro, com média diária de US$ 43 milhões.  

Isso é 39,1% a mais do que o volume de exportações do mesmo mês do ano passado, segundo relatório da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Em âmbito nacional, os aumentos são principalmente para China, EUA e Egito.  

Segundo Gabriel Mambula, consultor técnico do Sistema Famasul, “esse aumento de demanda externa também se soma à composição do preço da arroba e contribui para o aumento observado”.  

Em MS, Jaime Verruck comenta que o crescimento foi de 25% no mês de janeiro, mas sem a participação chinesa. “Se tivéssemos o mercado Chinês habilitado, poderíamos aproveitar melhor o preço da arroba do boi”.  

De acordo com Mambula, as exportações para a China estavam represadas por dois motivos principais: embargo imposto à carne bovina no 4º trimestre de 2021 e festividades do ano novo chinês, ocasionando a diminuição dos embarques no fim de janeiro e nos primeiros dias de fevereiro.

Especialista em mercado exterior, Aldo Barrigosse afirma que há tendência de aumento dos embarques rumo ao exterior, mesmo com essa indisponibilidade. 

“Temos ações regulares de promoção das nossas exportações de carne, e isso gera abertura de novos mercados para nossa carne”, analisa.  

Para o resto do ano, as exportações devem ditar o ritmo da dinâmica de mercado, sendo a Ásia o maior destino dos produtos e a China o principal cliente. (Colaboraram Ana Clara Santos e Súzan Benites)

Correio do Estado - Rodrigo Almeida