Cultura

Festival só de mulheres violeiras arrasta multidões em MT

Há 3 anos, a cidade de Jaciara realiza o Encontro Nacional de Viola Caipira Feminina. Recebe violeiras de todas as idades, que só tocam moda de raiz

6 JAN 2019 - 09h:30 Por Paulo Ricardo
Foto: Reprodução / GR

Muita gente jovem está tocando viola. A maioria nasceu depois que o Globo Rural começou, há 39 anos. Mas uma instrumentista nasceu exatamente no dia 6 de janeiro de 1980, junto com o programa, no Dia de Reis. É a Juliana Andrade.

Guardiã da autenticidade musical caipira, ela já recebeu, dentre outros, os títulos de “Embaixatriz do Sentimento Sertanejo” e “Violeira do Universo”.

O brilho da Juliana tem fonte: o pai, Francisco Andrade. De prosa doce e toque preciso e delicado na viola, Francisco foi um pai severo. Não deixava a filha tocar o instrumento, tinha medo que ela fosse ridicularizada.

Até que um dia, esqueceu a viola à vista e, quando chegou em casa, viu pela fresta da porta a menina fazendo ponteios, direitinho. Resolveu então ensinar tudo o que sabia e ela já saiu cantando duetado. Menina ainda, já se apresentava na televisão.

O legado de seu Francisco pôs Juliana nos holofotes e ele agora diz que põe a maior fé na mulherada.

O caso de Bárbara Viola também é de herança musical. Ela ouvia moda de viola ainda na barriga da mãe, Sandra Reis, como canção de ninar. Agora, faz dupla com ela.

Bárbara e Sandra são de Botucatu, São Paulo. Moram na cidade. A família não tem empregada. A filha montou uma butique de roupas em casa e a mãe faz de tudo, especialmente cozinhar e fabricar diariamente um queijinho fresco. É o queijo um dos poucos itens, junto com os chapéus e os instrumentos, que indicam o estilo roceiro das duas.

Moisés Reis, avô de Bárbara e pai de Sandra, é como seu Francisco, pai de Juliana Andrade. Ambos viveram a chamada era de ouro do rádio e ainda guardam o costume de ouvi-lo. Dia desses, escutou a filha e a neta cantarem.

Juliana, Bárbara e Sandra não estão sozinhas. Em Jaciara, Mato Grosso, há três anos a viola chora em encontros nacionais de música diferente dos demais que acontecem no país. Primeiro, só se pode tocar música de raiz. Segundo, para subir no palco, tem que ser mulher.

O festival lota a praça central de Jaciara. A programação conta com 50 atrações se revezando em dois dias, superando o que sonhava o radialista Miguel Cezário, organizador do evento. Todo mundo apostava contra, mas choveu violeira de todos os quadrantes, dispostas a trocar repertório e o que mais fosse preciso. Juliana Andrade é a madrinha da festa.

Fonte: G1 / Globo Rural

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