Terça-feira, 20 dezembro 2022, será reinaugurada a "Praça dos Pescadores", que leva o nome do meu saudoso avô, Francisco Mendes da Rocha Filho, o "Sinhozinho". Adornada por belos dourados criados pelo famoso artista Pedro Guilherme, é mais um cartão postal da nossa cidade.
Contudo, gostaria de contar um pouco sobre a trajetória do meu avô, que remete a de boa parte de uma brava gente coxinense, nordestinos, migrantes buscando por melhores perspectivas de vida.
Baiano, nascido em Catolândia, seu pai tinha uma pequena lavoura na região de Barreiras. Por ser filho do patrão, passou a ser chamado de "Sinhozinho". Ficou órfão de mãe muito cedo e devido a um duelo entre seu irmão e outro filho de uma família local, para não sofrer vingança, precisaram mudar-se para o Mato Grosso em busca de esperança e paz.
Ao chegar, começou a trabalhar muito cedo na roça dos Araújo (Fazenda Estiva), quando então conheceu uma moça belíssima chamada Geny, que assim como ele, também era migrante baiana - foi amor à primeira vista e o casamento logo aconteceu em 1962. Tiveram quatro filhos: Maria Aparecida, Deuzilda, Deusvaldo e Deusvaldir.
Juntos, trabalharam de sol a sol e após formarem uma reserva financeira, no início dos anos 60, mudaram-se para Vila Pequena abrindo um pequeno restaurante de nome "Nosso Recanto". O estabelecimento logo virou um sucesso, reconhecido pela saborosa comida caseira, permitindo ao casal alçar vôos mais elevados.
Sinhozinho era analfabeto, mas tinha espírito empreendedor e fazia contas como ninguém.
Seu faro previu necessidade de novos ares e foi aí que em 1970 decidiu mudar-se para as cercanias de uma praça próxima à ponte velha, abrindo estabelecimento de nome “Bar e Restaurante Sinhorzinho”, que passou a ser ponto de parada dos ônibus rodoviários. Foi mais um acerto dos baianos, que congregando a um empenho incansável, levou a mais um negócio bem sucedido.
Em 1975, com a pavimentação e novo traçado da BR-163, veio a necessidade de nova mudança e ampliação - construíram por conseguinte outro edifício as margens da atual rodovia, onde imortalizaram-se por servir a melhor peixada da região. Seu restaurante virou ponto de encontro da sociedade coxinense que não recusava a hospitalidade do casal junto a uma porção de peixe frito ou frango a passarinho acompanhados de uma cerveja bem gelada para espantar o calor local. Juntamente a Seu Nezinho e dona Eulice (Hotel e Restaurante Piracema), fizeram história formando os principais pontos de pouso e almoço em Coxim nos anos 70 e 80.
Coxim vivia o auge da pesca, atraindo milhares de turistas de todo o Brasil e a BR-163 tornava-se uma das principais rodovias, servindo de passagem para desbravadores que formariam toda a região norte de Mato Grosso após a divisão em 1977.
Do “Hotel e Restaurante”, Sinhozinho e Geny tiraram seu sustento e formaram uma família que também estendia-se a seus funcionários, amigos e agregados. Sinhozinho tinha por características a alegria, lealdade e coragem de vencer na vida através do trabalho. Não recusava uma festa, era apaixonado por pescarias, tinha muitos amigos e acolhia todos os seus, servindo de esteio e ajudando aqueles que a ele recorriam.
Quisera o destino que cedo nos deixasse, aos 46 anos, em 20/05/1987, vítima de uma infecção de pele mal-curada que generalizou. Deixou um legado e sua história serve como exemplo para todos aqueles que continuam buscando Coxim como um local de recomeços, onde reina a paz e a esperança por um futuro melhor.
Fernando Henrique Rocha Fontoura
Natural de Coxim-MS, médico e escritor.
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