Policial rodoviário federal há duas décadas, Tércio Baggio escreveu artigo defendendo mudanças na legislação para que os registros dos tacógrafos (equipamentos que documentam a velocidade empregadas por veículos pesadas) possam ser usados para punir caminhoneiros infratores. Ele chega a comparar carretas com toneladas de carga transitando em alta velocidade a "armas de destruição em massa".
Denuncia ainda a existência de organizações de caminhoneiros via rádio e grupos de mensagem para driblar fiscalização. O policial fala em chamados "crimes intocáveis" para exemplificar o que vê na prática, durante os 20 anos de trabalho nas rodovias federais.
Ele se lembra de um caminhão bitrem que transitava a 147 km/h na BR-163 em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, pouco antes de passar pela fiscalização. O veículo transportava 50 toneladas de carga, pesava 74 toneladas no total e a velocidade estava registrada no tacógrafo, mas a PRF nada pôde fazer, porque não houve flagrante com radar, por exemplo.
O policial argumenta que esse tipo de velocidade é incompatível com a segurança e que os caminhoneiros que dirigem tão rápido deveriam ser punidos com mais severidade. Baggio pede que as autoridades tomem medidas para proteger a vida dos motoristas e passageiros.
As orientações para motoristas de veículos menores que pegam as rodovias e estradas dentro e fora de Mato Grosso do Sul é evitar ficar longe de veículos de carga. "Se algum deles encostar para te ultrapassar, tente ganhar distâncias para frente ou deixar passar o quanto antes", explica Baggio.
Ele ressalta ainda o cenário crítico não é diferente dos outros estados. "Não muda muito em relação a quase todos os estados. Eles sabem onde a polícia costuma fiscalizar e se ajudam mutuamente quando um radar é instalado".
O policial rodoviário afirma que a fiscalização por meio de radares não é suficiente. "Em qualquer país sério, motorista de caminhão com essa velocidade sentaria na frente de um juiz e teria sua CNH suspensa ou cassada de forma célere. No Brasil, a PRF vê a infração e libera sem poder fazer algo concreto, a não ser, claro, quando ele já causou o acidente e o tacógrafo evolui, de mero registro, para prova criminal em um homicídio no trânsito que não se conseguiu evitar em fiscalização. No Brasil é assim. A tragédia é anunciada aos quatro ventos, mas só se faz algo após sua materialização".
Gabriel de Matos/Campograndenews