COLUNA

Manoel Afonso

A corrupção e o estranho silêncio dos políticos

11 MAI 2018 - 16h:09 Por Manoel Afonso

CENÁRIO    É preciso ver com outros olhos o quadro político estadual. Não há mais o partido protagonista absoluto. Temos o MDB, o grupo da família Trad (um prefeito, um vereador, um deputado federal e um ex-prefeito) em partidos diferentes, o PDT, o Democratas, o Partido dos Trabalhadores, o PP do ex-prefeito Alcides Bernal, o grupo do ex-deputado Londres Machado no PSD e o PRB representado pelo senador Pedro Chaves.  Cada qual com sua representação na Assembleia Legislativa, Câmara Federal e Senado. Ninguém pode ser desprezado no frigir dos ovos.

HIPOCRISIA Enfastiado talvez com a mesmice do mundo financeiro, o bilionário Nelson Rockefeller (3ª. geração) teria comunicado à sua mãe a intenção de entrar para a política e levou um sonoro pito: “Filho - isso a gente deixa para nossos empregados”.  No fundo, para a matriarca, o termo ‘empregados’ incluía políticos de uma forma ou de outra vinculados ao poder financeiro da sua família. Com republicanos ou democratas na Casa Branca, a família Rockefeller continuaria e continua influente.

DINHEIRO É algo que faz o mundo girar possibilitando poder e prestígio. É errado do ponto de vista moral, mas verdadeiro na pratica. Um exemplo por aqui é o empresário João Amorim que se deu bem na prefeitura de Campo Grande (gestão de Nelson Trad Filho (PTB)  e no Governo Estadual  (gestão de André Puccinelli (MDB), alvo de  questionamentos judiciais pelas irregularidades apontadas pelas autoridades. É por isso que virou freguês do xilindró. Nem óculos escuros usa mais perto da imprensa.

JOÃO AMORIM não pode ser comparada a estatura de um Rockefeller e nem com empresários em nível nacional – hoje condenados pela Justiça Federal por trapaças e corrupção generalizada que dispensam citações. Se não pode ser medido pela astúcia e preparo intelectual do mega empreiteiro de Marcelo Odebrechet, o pragmático João Amorim soube aproveitar o terreno fértil para abocanhar os serviços de terceirização ou de empreitadas de obras diversas. Delas ganhou o mundo e o fundo.

GULOSOS Essa a marca registrada dos empresários com interesses na gestão pública. Sabem que ‘azeitando’ a máquina, plantando gente influente em setores estratégicos só terão a ganhar.  Investir também em candidaturas pode garantir o apoio declarado ou o silêncio da conivência. Aliás, sobre a corrupção por aqui, não ouço por parte dos políticos, cobranças por apurações. Um silêncio estranho com a marca da suspeição.

SAIA JUSTA É a situação da deputada estadual Antonieta Amorim (MDB), ex-mulher do ex-prefeito Nelson Trad (PTB) e irmã de João Amorim – detentor de contratos milionários através da Solurb – objetos de questionamentos judiciais. Ela optou pelo silêncio enquanto parlamentares de seu partido foram sutis para evitar opiniões. Insisto: não ouço nos plenários legislativos discursos críticos – com a devida veemência – contra os casos nossos de corrupção. Entendo a preferência por amenidades e outros temas afins. Mas não aceito.

SEGUNDO inquérito da Polícia Federal a deputada seria uma das proprietárias do condomínio de fazendas constituído com verba pública desviada de suposto esquema de fraudes em contratos e pagamentos de propina. É de mais de R$60 milhões o valor das de imóveis rurais adquiridos por membros da Família Amorim nos últimos anos, segundo inquérito da Polícia Federal. Pessoal sortudo!

‘ BRAZIL’  Pelo fato da citada deputada ser beneficiária do Foro privilegiado, o trecho do Inquérito conhecido como ‘Operação Fazendas de Lama’ envolvendo o seu nome teria sido remetido ao Tribunal Regional Federal da 3ª. Região. Quando da prisão de seu irmão João Amorim naquela ocasião, a deputada não foi visitá-lo na prisão.  Agora, perguntada pelo colunista – no alto de seu sapato -  ela prometeu que não deixará de fazê-lo. Claro, sem perder a classe e longe dos holofotes da mídia. “Noblesse oblige” – (A nobreza obriga, isto é, a posição social impõe certas regras)

A PROPÓSITO   O fato da soltura do ex-deputado Edson Giroto (PR), do empresário João Amorim e outros - ter sido concedida pelo desembargador Paulo Fontes (TRF-3ª. região), o mesmo que no final de 2017 concedeu habeas corpus ao ex-governador André Puccinelli (MDB), tem provocado comentários irônicos tambem nos meios jurídicos.

DESTACO o termo “desrespeitosa” da Procuradora Geral Raquel Dodge para classificar a decisão do desembargador Paulo Fontes na concessão de liberdade aos acusados citados. Dodge destacou as 5 evidências de lavagem de dinheiro e criticou os argumentos constantes na libertação, segundo “os acusados não oferecem perigo à ordem pública”.  Já o ministro Alexandre de Moraes (STF) foi taxativo ao classificar como “um verdadeiro absurdo e ilegal a decisão do TRF-3 em 19 de março contra decisão do próprio Supremo.

NITROGLICERINA Não sejamos ingênuos. A prisão de Edson Giroto (PR) pela 4ª. vez motiva opiniões no saguão da Assembleia Legislativa. Alguns dos questionamentos que ouvi: “Acuado e pressionado pela família, o ex-Secretário de Obras (Edson Giroto) poderia acabar fazendo uma delação premiada?”  “Qual será desta vez a postura do ex-governador André Puccinelli (MDB)? Irá visitar Giroto na prisão? Finalmente dará uma entrevista coletiva para falar a respeito do delicado caso?”  São questões que povoam o imaginário popular neste cenário de notícias e imagens policiais ruins.

CONSEQUÊNCIAS Também no campo político elas tendem a ser ruins com mais essa prisão do ex-deputado federal Edson Giroto e líder máximo do PR aqui no Estado. Afinal, seu partido – com a saída dos deputados Paulo Corrêa e Grazielle Machado e do ex-deputado Londres Machado – caminha para apoiar a candidatura ao governo de André Puccinelli – coligado ao MDB.  Teriamos um cenário interessante: o ex-governador Puccinelli – candidato a governador – tendo ao lado o ex-secretário Edson Giroto – alvo destas denúncias graves.  O que o eleitor pensa neste clima de indignação que tomou conta do país? Essa é a pergunta!

ADHEMAR DE BARROS Ainda menino conheci o ex-governador de São Paulo. Impossível esquecê-lo: calça de linho com pregas, suspensórios, camisa de manga comprida e chapéu de feltro. Discurso pausado e com tiradas que arrancavam risos e aplausos.  Mas eu quero ressaltar que ficou de suas gestões foi a imagem de gestor corrupto ou conivente com as mazelas como mostram as notícias e casos folclóricos.  Hoje aquela famosa frase atribuída ao Adhemar, “rouba mas faz” não pode continuar servindo de parâmetro na escolha de nossos governantes.

REGISTRO    Bem que o senador Romero Jucá – líder do Governo no Senado – queria o cargo, mas a senadora Simone Tebet (MDB) líder do Planalto na casa, prestigiou o senador Waldemir Moka (MDB) para o honroso e espinhoso cargo de Relator Geral do Orçamento. O pior: nos bastidores o presidente Michel Temer (MDB) costurava em prol do senador Romero Juca também do MDB, um partido pragmático demais do outro lado do balcão. Sem fiado! Dos 18 senadores do MDB – 12 são investigados.

O QUADRO no Senado é horrível. Dos 13 senadores do PSDB 9 são investigados ou respondem a processo; dos 9 senadores do PT, 6 investigados; dos 7 do PP, 4 investigados, dos 5 do DEM, 2 investigados; dos 5 do PSD, 2 investigados; dos 2 do PTB, 1 é investigado; dos 2 do PC do B, 1 investigado; dos 5 do Podemos, 1 sob investigação e o único senador do PTC está sob investigação. Só gente fina.  

DESEMBARQUES O desembarque do Governo Estadual pelos deputados do MDB quase coincide com o desembarque da Normandia pelas tropas aliadas no 2ª. Guerra em 6 de junho de 1944. Mas aqui o desembarque foi pacífico. Na análise política da decisão fica a certeza de que para alguns deles a reeleição ficou mais difícil. Sem contar a eventual desistência da candidatura do ex-governador Puccinelli (MDB), caso ele volte a ser detido para investigações pela Polícia Federal a exemplo de Edson Giroto. Tudo é possível.

MARATONISTA   Logo após o retorno da Coréia onde representou o Brasil, o senador Pedro Chaves (PRB) continua ativo como relator do novo Código Comercial para torná-lo moderno e alinhado às normas internacionais. Nesta sexta feira ele preside audiência para debater o assunto na Assembleia Legislativa. Um dos convidados é o professor da PUC de São Paulo – dr. Fabio Ulhôa Coelho, um mestre reconhecido na área.

BELEZA Só 4 meses de mandato e o deputado Fabio Trad (PSD) não decepcionou ao ser classificado como o 12º parlamentar mais atuante na Câmara. Participou de 64 debates, apresentou 11 projetos de lei e atuou como titular na CCJ e na Comissão revisora do novo Código de Processo Penal. É o deputado mais bem avaliado de MS. Objetividade- esse o lema do deputado.

NA ESTRADA   Estive com Gerson Claro Dino, hoje filiado ao PSB. Disse-me que é candidato a deputado estadual e que sua eleição servirá inclusive para demonstrar sua inocência nas acusações do caso Detran, onde foi diretor. Advogado, com boa visão da política estadual acredita na reeleição do governador Reinaldo Azambuja (PSDB), com quem caminhará. Boa sorte.

FRANCAMENTE... Esperava mais do ex-ministro do STF Joaquim Barboza que não levou em conta seu desempenho nas pesquisas eleitorais ao se manifestar num texto pobre, mixuruca de 3 linhas, abrindo mão da candidatura. Faltou-lhe sensibilidade ou preparo na redação do texto. Poderia até ter alegado as dores nas costas que teriam motivado abrir mão dos 11 anos na mais alta corte do país. Enfim, mais uma vez as aparências enganam. Bom retorno à Miami.  

CANSAÇO   Sob sol forte na fila da biometria conversei com alguns eleitores ali na rua Calógeras aqui na capital - no último dia do procedimento. O pessimismo deles com as eleições era visível.  Estavam ali só para evitar problemas legais. Seria bom que os candidatos tivessem percorrido os locais da biometria para aferir o pensamento do eleitor. Esses mais de 70 mil eleitores que não se recadastraram deram as costas para o sistema atual. Será que os políticos perceberam isso?

“Incoerência: o eleitorado corrupto procurando o político honesto”. (na internet)

 

 

   

 

 

 

 

 

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