COLUNA

Paulo Ricardo

O povo brasileiro vai pagar caro pela descentralização das ações contra o coronavírus

15 MAR 2020 - 09h:38 Por Paulo Ricardo

Gostaria de estar errado sobre esse assunto, mas desde quando foi emitido o primeiro alerta da doença em 31 de dezembro de 2019 pela Organização Mundial de Saúde, levou apenas 72 dias para OMS anunciar uma PANDEMIA do novo coronavírus (Sars-Cov-2), causador da doença Covid-19.

Pandemia se refere a uma doença que se espalha por diversos continentes com transmissão sustentada entre as pessoas

Como exemplo, entre 1957-1958, a pandemia da Gripe Asiática (H2N2) alastrou-se pelo mundo em dez meses. Ela começou no norte da China e avançou para Ásia, Oceania, África, Europa e Estados Unidos. Estima-se até 2 milhões de mortos.

Antes de focar no Brasil e no preço que todos os habitantes podem pagar sobre o Covid-19 – até com a própria vida –precisamos recordar de alguns fatos:

- Em 30 de dezembro de 2019, o médico oftalmologista chinês, Li Wenliang, de 34 anos, enviou uma mensagem para seus colegas alertando sobre um possível surto de doença respiratória com sintomas semelhantes aos da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARs-CoV), que matou mais de 700 pessoas no início dos anos 2000.

- Junto com os colegas, ele foi investigado sob acusação de "espalhar boatos" relacionados ao surto. Convocado pela polícia, teve que assinar uma carta prometendo não divulgar informações sobre a doença.

- No dia 10 de janeiro, Wenliang publicou em sua rede social, que começou a tossir e no dia seguinte passou a ter febre, dois dias depois foi parar no hospital. A contaminação, possivelmente aconteceu no início do ano enquanto tratava uma paciente infectada.

- O médico faleceu no dia 6 de fevereiro às 17 horas.

Primeiro erro clássico, autoridades duvidaram do médico e, para variar, tentaram esconder o caso

- Os casos na China surgiram no começo de dezembro de 2019, e o primeiro alerta da OMS sobre uma pneumonia misteriosa só foi divulgada no último dia do ano. A primeira morte foi registrada em 9 de janeiro de 2020.

- O governo da China declarou, a poucos dias, que o pico do surto acabou no país e os novos casos de Covid-19 continuam em declínio. O coronavírus matou mais de 3.170 pessoas na China.

- A Itália é, atualmente, o segundo país mais afetado pelo novo coronavírus no mundo, atrás apenas da China. As autoridades ainda não sabem como a doença chegou ao país e ainda buscam o “paciente 0”.

- Já foram registradas na Itália 9.172 infecções, mais de 700 pessoas estão em terapia intensiva, além de 463 mortes e, no mínimo, 15 milhões de pessoas estão em quarentena.

- Mesmo que a origem do surto não tenha sido totalmente esclarecida, as autoridades italianas consideram Mattia, de 38 anos, como o “paciente 1”.

- Mattia foi admitido no hospital no dia 19 de fevereiro com problemas respiratórios. Segundo a imprensa local, ele ficou 36 horas em observação no local, durante as quais entrou em contato com outros pacientes, médicos, funcionários, além de familiares e amigos. Pelo menos 13 pessoas em seu entorno foram diagnosticadas com a doença.

- O primeiro-ministro, Giuseppe Conte, anunciou somente no dia 9 de março medidas rigorosas para conter o coronavírus, ou seja, levou 20 dias para que toda a Itália fosse considerada “zona vermelha”, onde o país inteiro passou a respeitar as medidas restritivas de circulação.

Especialistas apontam que a administração pouco centralizada da Itália, baseada na força dos governos regionais, também pode ter impactado na velocidade de resposta ao surto

O mundo inteiro está tomando medidas extremas para reduzir o contágio do Covid-19, incluído o cancelamento de voos e cruzeiros marítimos. Já no Brasil, mesmo sendo decretado Estado de Emergência, bem antes do primeiro caso confirmado no país, o Ministério da Saúde fica apenas passando recomentações para os estados e municípios e sem nenhuma padronização, ou seja, está sob responsabilidade dos municípios e estados seguirem ou não as recomendações.

Gráfico elaborado pelo cientista Drew Harris e adaptado pelo biólogo Carl Bergstrom mostra como medidas de prevenção podem retardar o contágio da Covid-19 e evitar o colapso do sistema de saúde Imagem: Carl Bergstrom e Esther Kim/CC BY 2.0

 

Brasil

Não precisamos ser especialistas para saber que os médicos que ocupam cargos políticos vão esperar até o último minuto para decretar medidas mais extremas, ou seja, somente quando o pico da epidemia no Brasil estiver incontrolável.

As autoridades vão apenas intensificar as ações contra o coronavírus somente quando as mortes passarem de uma escala aritmética para geométrica?

Já temos no Brasil os primeiros casos de transmissão comunitária, ou seja, quando não é mais possível identificar a cadeia de infecção. Isso significa que o vírus está circulando livremente na população.

O Ministério da Saúde (MS) confirmou, na sexta-feira (13), o Covid-19 nos seguintes Estados: São Paulo (65), Rio de Janeiro (22), Paraná (6), Rio Grande do Sul (4), Goiás (3), Bahia (2), Minas Gerais (2), Pernambuco (2), Santa Catarina (2), Distrito Federal (2), Alagoas (1), Espírito Santo (1) e Rio Grande do Norte (1), mas neste exato momento, esse número de estados já pode ser maior, assim como, a quantidade de pessoas contaminadas.

Fonte: Ministério da Saúde (dados até 13/03)

 

Em uma coletiva de imprensa, o MS também anunciou uma série de RECOMENDAÇÕES GERAIS para os municípios e Estados. Na Itália, como foi citado anteriormente, a descentralização prejudicou muito na contenção do coronavírus.

Caso o MS for seguir nesse mesmo caminho da Itália, descentralizando, pode ocorrer também uma demora no tempo de resposta, entretanto, se o MS assumir a responsabilidade de aplicar as medidas extremas de contenção e mitigação, pode ser a solução para reduzir o contágio, que já passa de 90 casos confirmados (dados de 13 de março).

Não adianta um Estado ou município aplicar as medidas extremas e outro não, tem que ser uma ação única, a nível nacional

Quanto antes as autoridades brasileiras entenderem a real extensão da ameaça, e adotarem as medidas unificadas em todo o território nacional (evitar aglomerações e contatos diretos, só liberar a saída de casa quando necessário, cancelar as aulas no ensino público e privado, incentivar as atividades e trabalhos via internet, entre outras), mais rápido será o sucesso de diminuir o impacto da epidemia no sistema de saúde e na economia brasileira.

Infelizmente, o povo elege representantes que ficam sentados em seus confortáveis gabinetes, cercados por dezenas de assessores, com planos de saúde vitalícios e sem limite no cartão corporativo, esperando centenas de pessoas contraírem o vírus, para então, tomarem uma atitude. Que Deus nos ajude!!!

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Foto da capa: Reprodução / Internet

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