COLUNA

Dom Otair Nicoletti

Dom Otair Nicoletti

Um ensinamento novo e com autoridade

26 JAN 2024 - 15h:10 Por Dom Otair Nicoletti

PALAVRA - Evangelho de Marcos 1, 21-28. 21Na cidade de Cafarnaum, num dia de sábado, Jesus entrou na sinagoga e começou a ensinar. 22Todos ficavam admirados com o seu ensinamento, pois ensinava como quem tem autoridade, não como os mestres da Lei. 

23Estava então na sinagoga um homem possuído por um espírito mau. Ele gritou: 24“Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: tu és o Santo de Deus”.25Jesus o intimou: “Cala-te e sai dele!”

26Então o espírito mau sacudiu o homem com violência, deu um grande grito e saiu.27E todos ficaram muito espantados e perguntavam uns aos outros: “O que é isto? Um ensinamento novo dado com autoridade: Ele manda até nos espíritos maus, e eles obedecem!” 28E a fama de Jesus logo se espalhou por toda a parte, em toda a região da Galileia. – Palavra da Salvação– Glória a vós Senhor.

MENSAGEM - O evangelho deste quarto domingo do tempo comum, (Marcos 1,21-28), está em perfeita continuidade com o do domingo anterior (cf. Mc 1,14-20). 

Após ter iniciado a composição da comunidade de discípulos, chamando os quatro primeiros seguidores e anunciando a iminência do Reino de Deus, eis que Jesus inaugura definitivamente o seu ministério na Galiléia. 

Como elementos mais importantes do texto a serem observados, destacamos: as dimensões de tempo e espaço (sinagoga/sábado), ensinamento e cura (palavra/ação), admiração e confronto. Esses elementos são muito representativos para a imagem de Jesus que Marcos pretende apresentar com o seu evangelho. 

Eis o texto: “Na cidade de Cafarnaum, num dia de sábado, Jesus entrou na sinagoga e começou a ensinar” (v. 21). É muito significativo esse primeiro versículo. A cidade de Cafarnaum, cujo nome significa “aldeia de Naum”, se torna o centro das atividades iniciais de Jesus na Galiléia. 

Era uma cidade estratégica devido a sua localização às margens do mar (lago) da Galiléia, sua economia e população bastante diversificada. Era a cidade ideal para a “pesca de homens”, atividade atribuída aos seus discípulos. Por isso, Jesus monta nela o núcleo central do seu discipulado e das suas atividades. 

É importante recordar que a ordem para os discípulos se tornarem “pescadores de homens” possui um significado muito forte: longe de ser um convite ao proselitismo, era um convite à promoção do ser humano em sua dignidade plena; significa a missão do discípulo de promover a libertação do ser humano de toda e qualquer situação de perigo, aprisionamento e morte. 

A ação de Jesus que o evangelho de hoje descreve mostra a sua principal urgência: libertar o ser humano da religião alienante e corrupta. Das tantas situações de perigo nas quais a humanidade estava imersa, a pior de todas era a alienação religiosa. 

Por isso, o primeiro espaço visitado por Jesus com sua mensagem e ação libertadoras foi a sinagoga. O evangelista se aproveita da vida litúrgica de Israel, sinagoga e sábado, para apresentar a missão libertadora de Jesus. 

O sábado era o dia sagrado por excelência para o povo judeu; dia do repouso e do culto, da escuta atenta da Lei e dos Profetas. A sinagoga era o lugar sagrado do culto, da reunião da comunidade, da catequese; o espaço privilegiado da pregação no judaísmo e, consequentemente, do ensino da preservação das tradições e do cumprimento dos preceitos da Lei. 

Jesus, ao contrário dos mestres da lei, não frequentava a sinagoga para ensinar a preservar as tradições, nem para repetir fórmulas e nem para cumprir os preceitos, mas a transgredi-los, uma vez que esses faziam parte do aparato de dominação e opressão ao qual o povo estava submetido. 

A diferença entre a pregação inovadora de Jesus e a tradicional dos mestres da Lei e rabinos da época logo foi percebida pelo povo: “Todos ficavam admirados com o seu ensinamento, pois Ele ensinava como quem tem autoridade, não como os mestres da Lei” (v. 22). 

A autoridade com a qual Jesus ensinava consistia na sua coerência de vida e fidelidade ao Pai. As pessoas, habituadas a ouvir repetições de fórmulas, logo se admiram com a novidade apresentada por Jesus. Ora, o Reino de Deus, objeto da pregação de Jesus, tinha sido bloqueado pela religião. 

Os mestres da Lei eram funcionários do sagrado, ao invés de autoridade ensinavam com autoritarismos e força repressiva. Jesus ensina com liberdade e para a liberdade. À medida em que o anúncio de libertação ecoa as forças do mal se evidenciam. 

A presença de um homem possuído por um espírito mau no espaço sagrado atesta que aquela religião tinha perdido sua capacidade de combater o mal. O que ameaça o mal é a presença do bem, e Jesus é, por excelência, o portador do bem, o homem possuído pelo Espírito Santo. 

Até então, o mal instalado não tinha se sentido ameaçado, porque não havia quem irradiasse o bem naquele ambiente. O homem possuído pelo espírito mau, com quem a religião convivia tão bem, se sente ameaçado pelo ensinamento libertador de Jesus com sua autoridade. 

Quanto mais o Reino de Deus se aproxima, mais o domínio do mal se sente ameaçado. Jesus não suporta o mal ao seu redor, por isso “o intimou: Cala-te e sai dele!” (v. 25). A essa ordem, segue-se o seu efeito: “Então o espírito mau sacudiu o homem com violência, deu um grande grito e saiu” (v. 26). 

Quem está dominado por forças hostis como a violência, a corrupção, a mentira e o ódio, não consegue livrar-se com facilidade. Mas, a palavra de Jesus tem uma eficácia inconfundível e, mesmo sofrendo violência, consegue vencer. 

Aqui está um dos principais elementos do relato: a coerência entre a palavra e a ação de Jesus. Ensinamento e cura (expulsão do espírito mau), na mesma cena, significam que em Jesus não há discordância entre o falar e o agir; Ele é totalmente coerente. Essa é a sua práxis! 

No Evangelho de Jesus nos ensina a natureza dessa pesca: ser agente de libertação para a humanidade, livrando o ser humano das situações de opressão e morte. 

Fragmentos Reflexão - Pe. Francisco Cornelio F. Rodrigues - Mossoró-RN

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