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Diferença entre Enem e Ensino Médio foi dificuldade para alunos

Com o novo Ensino Médio, estudantes apontam que as matérias novas atrapalham na preparação para o Enem, já que os conteúdos não caem nos vestibulares

17 JAN 2024 - 12h:23 Por Redação/EC
Foto: Divulgação/Depositphotos

Estudantes do Ensino Médio de Mato Grosso do Sul apontam como principal dificuldade na realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), no ano passado, a diferença entre os conteúdos abordados pelo novo modelo de Ensino Médio e o que é cobrado no vestibular. 

Roger Murça, de 17 anos, estudou em escola pública durante todo o Ensino Médio e realizou o Enem pela primeira vez no ano passado. O jovem relata que achou bom o nível de dificuldade da prova, principalmente para quem nunca tinha feito antes, apesar dos textos extensos, que “embaralhavam a visão” durante o exame. 

O estudante não fez curso preparatório para o vestibular e tirou 760 na redação, mas a principal dificuldade encontrada foi por conta do conteúdo.

“Esse novo modelo do Ensino Médio dificulta bastante a vida do aluno em preparação para as provas do fim de ano, são muitos conteúdos que não são cobrados nas provas. Dependendo do curso que você deseja, só a escola te ajuda a fazer uma ótima prova”, ressalta o adolescente. 

Roger estudava em período integral e escolheu o eixo de Linguagens, já que pretende cursar Turismo na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). O adolescente aponta que se preparou com o conteúdo aprendido dentro da sala de aula.

Outra aluna da rede pública de MS, Letícia Amaral, de 17 anos, também realizou o Enem pela primeira vez em 2023. Ela se preparou sem curso pré-vestibular, fazendo provas antigas para ter uma base.

“Eu achei que Matemática não estava tão difícil, mas Ciências da Natureza achei mais difícil que nos outros anos. A redação achei bem fácil, os textos motivadores também estavam bons”, relata a adolescente, que obteve 940 na redação. 

Apesar de ter se empenhado nos estudos, Letícia também afirma que vê divergências entre o novo Ensino Médio e o Enem. A jovem quer cursar Química Bacharelado ou Farmácia na UFMS. 

“Esse novo modelo do Ensino Médio não é bom para o Enem atual. Porque assim, na minha escola, a gente começou a ter o novo Ensino Médio mais cedo, então tinham matérias à parte, que são as matérias das novas grades curriculares, e algumas eram úteis para o vestibular, outras não tinham nada a ver com o que ia cair na prova”, conta a estudante. 

“Assim, em vez de ajudar, atrapalha em alguns aspectos, porque a gente perde um pouco do ensino básico, o que em muitas escolas públicas já não tem, para ter algo à parte, diferente, que muitas vezes não ajuda no vestibular”, completa. 

Mato Grosso do Sul está entre os estados do País em que os alunos não obtiveram nota máxima na redação do Enem.

A última vez que o Estado teve representantes que tiraram 1.000 na redação foi em 2020, com duas estudantes entre os 28 jovens brasileiros que conseguiram o maior número de pontos. 

Reformas  

O mestrando em Educação pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) Luís Eduardo de Matos afirma que o novo Ensino Médio tem uma lógica mais neoliberal, em que o principal interesse é a formação de mão de obra. 

“O novo Ensino Médio, se você pega a grade curricular dele, o mínimo do mínimo é ensinado. Lógico que tem arranjos que eles fazem com os chamados itinerários formativos, mas que não ensinam aquilo que é cobrado no Enem”, comenta o especialista. 

Por conta de todas essas divergências, apontadas por alunos e educadores, o governo federal propôs novas diretrizes, que devem redefinir a Política Nacional de Ensino Médio no Brasil, por meio do Projeto de Lei n° 5230/2023, que ainda tramita na Câmara dos Deputados. 

A proposta tem como principais aspectos mudanças na carga horária, nas disciplinas obrigatórias, na formação dos professores e nos itinerários formativos.

Esse último foi um dos principais pontos da mudança no modelo de Ensino Médio, realizada em 2017, que permite que o estudante complete a grade curricular com áreas de seu interesse. 

O projeto recompõe as 2.400 horas anuais para as disciplinas obrigatórias, sem a integração com cursos técnicos, enquanto atualmente as escolas destinam apenas 1.800 horas para as disciplinas obrigatórias, da Base Nacional Comum Curricular (BNSS), e o restante, 1.200 horas, para os itinerários formativos ou para formação técnica e profissional. 

Já no caso dos cursos técnicos, a nova proposta pretende destinar 2.100 horas para disciplinas básicas e pelo menos 800 horas para aulas técnicas. 

Luís Eduardo de Matos avalia que esse aumento da carga horária de disciplinas básicas é fundamental para diversos profissionais da educação. 

Além da carga horária, a oferta de ensino profissionalizante também é algo pontuado como um item a ser melhorado pela reforma do novo Ensino Médio.

Correio Estado 

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