Iguaria na culinária de Mato Grosso do Sul, o pequi extrapola o sabor forte do cerrado. Apesar de ser tradicional por aqui, a produção no último trimestre não vingou e obrigou famílias a importarem fruto de estados vizinhos no Centro-Oeste. O valor subiu nos pontos de Campo Grande de venda e assusta o consumidor.
Na Feira Indígena, ao lado do Mercadão de Campo Grande, os saquinhos, que costumavam ser vendidos de R$ 15 a 20, custam de R$ 30 a 50. A estrela dos pratos pantaneiros tem produção e colheita entre dezembro e janeiro.
O que seria um período de fortes vendas, desanimou Rute Pereira, que está no local há 30 anos. Ela explica que as árvores de pequi floresceram, entretanto, sem frutos. A vendedora comprava mercadoria de Aquidauana, entretanto, teve que importar de Goiás.
“Pequi dá em qualquer lugar com pedra e areoso, mas esse ano não deu nada. Acho que foi calor e a chuva demais, mudança no tempo. É muito procurado, muita gente que gosta, nessa época é a iguaria que movimenta as vendas. Como compramos de Goiás, tivemos que subir um pouco para não ficar ainda mais no prejuízo”.
A produção encerra nos primeiros dias de fevereiro e, segundo Rute, essa é a hora dos consumidores comprarem. “Tem que aproveitar. Eu mesma, se deixar, como uma bacia inteira”.
Manita Mota explica que a dificuldade na produção se estende para outras frutas típicas, como a guavira e caju. As delícias “desapareceram” em um período típico de colheita.
“A guavira não teve onde comprar, ficou em falta. Os clientes acham que estamos vendendo muito caro, dizendo que é porque é algo que dá no mato que não podemos vender nesse valor, mas ninguém sabe da situação difícil. Isso aqui é a nossa sobrevivência”.
A venda dos frutos era tão comum que normalmente era fácil encontrar vendedoras ao longo da Rua 14 de Julho, no Centro, com as bacias fartas da iguaria. Nos últimos dias, a procura foi cansativa por quem costumava comprar barato, como conta a professora aposentada Mara Silva Carvalho.
“Eu estou desesperada para comer pequi, mas está muito caro, comprava por R$ 20. Eu fui criada no interior e cresci comendo bacias de pequi. Em Rio Negro, é tradição fazer conserva que dura anos, licor, na água e sal, no arroz ou com frango. É de lamber os beiços. Esse ano eu procurei bastante, mas não achei barato”.
Karina Campos e Clayton Neves/Midiamax |