"Todos os dias a gente leva chute, a gente leva tapa". O relato é de uma professora da educação infantil, de 55 anos, que pediu para não ser identificada. A profissional observa que a reflexão não é sobre as crianças e adolescentes, mas sim sobre a realidade em que eles vivem, e como essa realidade reflete no comportamento nas escolas.
Ansiosos, agressivos e relutantes. Essas características, segundo a professora, podem ser facilmente adquiridas a partir da convivência dentro de casa. É importante frisar que cada situação difere da outra e tem suas particularidades, mas no geral, a educadora destaca que "eles [alunos] reagem a qualquer frustração de forma agressiva em sala de aula. Os professores chegaram a um extremo".
A conversa não existe mais. Praticamente dia sim, dia não, a gente leva um pontapé, leva um tapa, quando a gente simplesmente fala "não", ou pede para cumprirem as regras", relata professora de 55 anos.
A professora desabafa que a sociedade cria a expectativa de que a escola cumpra o papel da instituição familiar, o que sobrecarrega os profissionais. Um dos problemas é a falta de acompanhamento dos pais na vida escolar dos filhos. "Às vezes dá a entender que a escola é a salvadora da Pátria, mas ela não é! Ela precisa que a família caminhe junto”.
Segundo a educadora, a realidade nas salas de aula é dura, e comentários do tipo “mas como não dá conta de uma criança de cinco anos?” acontecem com frequência. O problema é que não se trata de apenas uma criança, mas sim uma sala com mais de 30 alunos.
Falta conscientização
A vice-presidente da Fetems (Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul), Deumeires Morais, destaca que a principal preocupação da categoria é a conscientização de pais, alunos e escolas.
Ela ainda reforça a importância de investir em projetos de combate à violência e auxílios psicológicos entre alunos e professores. “Essas medidas podem nos auxiliar sobretudo contra qualquer tipo de violência, seja esta qual for, psicológica, verbal, emocional e física”.
Segundo Deumeires Morais, o trabalho da Fetems busca resolver os atritos junto à direção das escolas e às famílias. “[Existe] a necessidade de trabalhar a conscientização com a juventude e com os alunos em relação a respeito, solidariedade, para que possamos diminuir esses casos com os professores".
Violência na rede pública de ensino
O secretário Estadual de Educação, Hélio Daher, destaca que a pasta adotou uma série de ações na rede para reforçar a autoridade dos professores, em ação direta junto à Coordenadoria de Psicologia Educacional. Quando atritos evoluem para casos sérios, a pasta aciona a família, psicólogos, Conselho Tutelar e, em último caso, a polícia.
De acordo com o secretário, a maioria dos casos que envolve violência envolve alunos do ensino médio. Segundo Daher, as medidas se aplicam aos professores, merendeiras, zeladores e todas as pessoas vinculadas ao sistema educacional de cada escola.
Daher aponta que a maioria dos registros de violência ocorrem com alunos cujos pais não realizam o acompanhamento escolar junto aos filhos. Quando a família é presente, é mais fácil a escola conectar e resolver o problema.
O secretário disse que em muitos momentos, gestores e professores buscam contato com familiares de alunos envolvidos em discussões e casos de violência, entretanto, não recebem nenhum retorno dos pais do aluno. “Uma escola se queixou de uma postura de um aluno, a família foi acionada três vezes e não foi até a escola. Muitas vezes esse estudante é oriundo de uma família que não vai ou interage menos com a escola”, diz.
Questionada sobre as estatísticas de casos de agressões em escolas estaduais, a SED (Secretaria Estadual de Educação) informou que não trabalha com levantamentos quantitativos de ocorrências. "Nossa análise e acompanhamento se dá de forma qualitativa, colocando à disposição toda a estrutura de profissionais para nossas unidades escolares”.
Alison Silva e Idaicy Solano/campograndenews