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Facebook e Google miram modelo de negócio das notícias falsas; entenda

2 ABR 2017 - 11h:05 Por Valdeir Simão e Youssef Nimer
Imagem da sede do Google, vista no Street View Imagem da sede do Google, vista no Street View - Foto: Reprodução

O Facebook e Google concorrem em vários flancos do meio digital, mas adotaram uma estratégia similar para combater o surgimento das notícias falsas: bombardear a rentabilidade do negócio da criação de conteúdo falacioso. As medidas só valem, no entanto, para plataformas abertas. Em apps de mensagem, como o WhatsApp, a disseminação das notícias falsas ocorre sem obstáculos.

Algumas das ações já funcionam no Brasil, mas a maioria é exclusiva de Estados Unidos, Alemanha e França. Apesar de concordarem que o problema não surgiu agora, as duas empresas só começaram a se movimentar com mais força para demovê-lo no ano passado: o Facebook, após ser acusado de permitir que sites de “fake news” manipulassem a opinião pública durante a eleição presidencial de 2016, e o Google, por ver muitos de seus serviços e produtos indicarem informações falsas como as mais relevantes.

Google

O Google começou a punir sites que disseminam “notícias falsas” como parte de uma ação que deve atingir todos aqueles que “falsificam, distorcem ou ocultam informações sobre editores, o conteúdo do editor ou o propósito primário da propriedade da web”. Quando identificadas, essas páginas passam a ser proibidas de participar dos programas de anúncios do Google para páginas na internet.

Em outra frente, a empresa diz estar revisando as políticas de uso do YouTube para proibir que vídeos com informações deturpadas veiculem anúncios. As punições envolvem o principal ativo da empresa, já que a publicidade rende quase US$ 9 de cada US$ 10 faturados pela empresa.

A popularização de notícias falsas já causou saias justas à maior aposta do Google para deixar de ser apenas uma criadora de serviços conectadas e entrar de vez no mundo das fabricantes de eletrônicos: o Google Home, aparelhinho que gerencia todos os dispositivos inteligentes domésticos com o auxílio de um assistente pessoal que responde perguntas e executa tarefas após receber comandos de voz.

Caso a pergunta fosse se Barack Obama planejava dar um golpe enquanto era presidente dos EUA, a resposta não só era positiva, mas também trazia detalhes: a derrubada do governo era tramada em conluio com os comunistas da China. Se alguém buscasse no motor de busca pelos presidentes dos EUA que eram membros da organização racista Ku Klux Klan, o Google exibia como resultado no topo da página a resposta: quatro, e indicava os nomes deles.

Evidentemente, nenhuma dessas informações é verídica, mas elas foram coletadas pelo Google Home ou pela ferramenta de pesquisa na internet de sites notórios por criar e promover notícias falsas.

“O objetivo da busca é fornecer os resultados mais relevantes e úteis para os usuários. Nesses casos [em que aparecem ‘fake news’], nós claramente não conseguimos cumprir isso direito, mas nós estamos trabalhando continuamente para aprimorar os algoritmos”, afirma um porta-voz do Google.

Ainda assim, a empresa não retira dos resultados das buscas os links que tragam alguma informação imprecisa. O que faz é, em sua página destinada a agregar notícias, incluir links de fatos analisados por entidades de “fact checking” sempre que um assunto tratado de forma controversa seja listado. Esse recurso já funciona nos Estados Unidos, no Reino Unido, na Alemanha e na França. E chegará a mais países em breve.

Além disso, o Google investiu em organizações de “fact checking”, como Catchy (Itália), Full Fact e Stat/Faktama (Reino Unido), Ferret Fact Check (Escócia) e Lesserkritikk (Noruega).

Facebook

Assim como o Google, o Facebook também entende que a principal motivação da criação de notícias falsas é financeira. E, segundo a rede social, as páginas que exploram esses conteúdos tentam torná-los virais para explorar uma peculiaridade da plataforma: os critérios que o algoritmo do Facebook usa para impulsionar ou travar a disseminação de posts. A principal ação da empresa é minar essa estratégia.

Quando usuários apontam que há informações falsas em alguma publicação, o primeiro passo é o Facebook encaminhar a denúncia para as equipes que analisam abusos na rede social – é a mesma que verifica reclamações por discurso de ódio, racismo, violência, por exemplo. Caso não tenham resposta imediata, o segundo passo é repassar a demanda para entidades de checagem de fatos.

No Brasil, o processo se encerra na primeira etapa. Em seu ciclo completo, no entanto, a iniciativa funciona em três países: Estados Unidos, França e Alemanha. Neles, os grupos de “fact checking" têm prazo de 72 horas para produzir um diagnóstico. Caso a informação seja falsa, o Facebook toma quatro atitudes, duas voltadas aos usuários e outras duas para encurtar o alcance financeiro dessas publicações (no Brasil, as “notícias falsas” são punidas, mas apenas focam o bolso dos editores).

O que acontece com as “fake news” no Facebook do Brasil:

A relevância do post indicado como “notícia falsa” é bastante reduzida no feed de notícias, para que os usuários tenham de rolar muitas vezes a linha do tempo do aplicativo até encontrar a história;

O Facebook impede que esse conteúdo seja “promocionado”, isto é, que ele seja impulsionado para mais pessoas em troca de pagamento.

O que também acontece com as “fake news” no Facebook dos Estados Unidos:

As postagens que tiverem compartilhado o link receberão um banner indicando que as informações presentes nele foram contestadas, que entidades publicaram relatos precisos dos fatos e onde podem ser lidos.

Todos os que quiserem compartilhar o link serão avisados de que as informações daquela página foram checadas e onde é possível ler essas análises.

O Facebook diz que pretende levar essas duas estratégias também a outros países, como o Brasil.

WhatsApp

Por manterem plataformas abertas ao público, Google e Facebook conseguem monitorar a publicação e disseminação de conteúdo sem que isso invada assuntos íntimos de seus usuários. As notícias falsas, no entanto, se espalham por outros meios digitais que, pela natureza da função oferecida, podem trazer riscos à privacidade se ganharem ferramentas que marquem notícias falsas. É o caso dos apps de troca de mensagens, como o WhatsApp.

Para o serviço, um dos mais populares do gênero no mundo e que pertence ao Facebook, a adoção de um sistema que aponte notícias falsas é inviabilizada pelas técnicas de segurança no bate-papo.

“A tecnologia de criptografia ponta-a-ponta que o aplicativo usa não permite acesso a nenhum tipo de conteúdo enviado. Os servidores não armazenam nem gerenciam as mensagens trocadas. Uma analogia para ajudar a entender isso são as companhias telefônicas, como a Vivo ou a Claro, que não podem controlar golpes via telefonemas ou SMS, já que eles não tem acesso ao conteúdo compartilhado. Também funciona assim com o WhatsApp.”

Segundo o app, os usuários que se sentirem incomodados podem bloquear o contato ou notificar o WhatsApp para que a conta da pessoa seja desativada.

Fonte: G1

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