Polícia

Tatuagem de matador, grana fácil, fama com garotas: vida bandida que fisga jovem

No corpo, faz sucesso a tatuagem de palhaço, símbolo de quem mata policial, e de artigo do Código Penal

17 JAN 2024 - 10h:06 Por Redação/EC
Adolescentes sonham com celulares, joias e relógios apreendidos com patrões do tráfico. Adolescentes sonham com celulares, joias e relógios apreendidos com patrões do tráfico. - Foto: Divulgação

A vida bandida “reluz” para os jovens numa mistura de acesso à possibilidade de dinheiro fácil, sucesso com as garotas e, de tão apreciada, vira marca na pele, com tatuagens alusivas à facção criminosa ou de artigo do Código Penal. Diante desses “falsos brilhantes”, os jovens e adolescentes são preferenciais no esquema do tráfico formiguinha, aquele que movimenta as boca de fumo pelos bairros de Campo Grande.

“É bastante comum jovens que trilham esse caminho ostentarem tatuagem que traz significado de facções criminosas. Tem o palhaço, tido por eles, dentro da facção criminosa, como matadores de policiais. Cada tatuagem tem um significado, uma identidade dentro daquele grupo social dele, que é a criminalidade. Palhaço é o que mais tem. Mas às vezes, vem escrito 157, que tipifica o artigo de roubo no Código Penal”, afirma o delegado titular da Denar (Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico), Hoffman D’Ávila Cândido e Sousa.

Do ponto de vista econômico, o quilo da cocaína, a partir de R$ 20 mil em Campo Grande, chama atenção. Afinal, é 14 vezes um salário-mínimo (R$ 1.412). Porém, essa cifra é só para a droga pura, sem misturas, e o tráfico tem uma hierarquia em que o dinheiro “ostentação” fica no topo, com o patrão. 

De acordo com o delegado, o tráfico doméstico é o que mais alicia adolescentes e jovens. “É aquele que atormenta a população, que vulgarmente se chama de biqueira, que vende ali poucas drogas o dia todo. Alicia principalmente os menores de idade. Ele enxerga naquela atividade, além do falso glamour da vida de bandido, um dinheiro fácil de ganhar”.

Essa “mão de obra” emerge também de uma geração nem-nem, que não vê perspectivas no trabalho ou estudo. “O jovem humilde que não estuda, que não trabalha. Que pensa que adentrar no mundo criminoso e até sair de tornozeleira é glamour”, diz o titular da Denar.

Noutro ponto, ainda surge a fama com as garotas, que vê esses adolescentes como “troféu” e “status”. 

"Quando a gente fala de perfil, não pode deixar de remeter à família. Então, a criminalidade hoje, como tráfico de drogas, alcança, sem sombra de dúvidas, famílias mais humildes no aspecto educacional e em relação também a desestrutura familiar. Então, tudo isso torna o adolescente e o jovem mais vulneráveis para adentrar no mundo criminoso”, enfatiza o delegado. 

Ele destaca que a vulnerabilidade é multifacetada em social, econômica, religiosa e educacional. “Esse jovem acha que não tem opção, mas na verdade é uma escolha que ele faz. Porque tem jovem que estuda, trabalha e alcança posição social”.

Contra essa falsa ideia de que o tráfico faz de todos milionários, o delegado usa a realidade. Nas palestras em escolas, por exemplo, explica ponto a ponto sobre os perigos das drogas, como a dependência química e impactos do crime a longo prazo.

“Começo falando da família, que não é só a quantidade de entorpecente por si só que vai definir se é tráfico de drogas ou não. Falo da oportunidade que ele está tendo naquela escola. Mostro o depoimento da pessoa que perdeu emprego, perdeu família, foi preso, insistiu nessa vida. Porque quem ganha dinheiro é o traficante patrão, que nem sequer usa droga”.

Em 2023, conforme dados da Sejusp (Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública), foram registrados 3.784 casos de tráfico de drogas no Estado, média de dez por dia. 

Aline dos Santos/CGNews

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