Profissões

Mulher vira catadora de piolho para ganhar renda extra: "trabalho digno"

2 MAR 2020 - 18h:28 Por Redação
Kelly fez um grupo nas redes sociais para divulgar seu trabalho na Baixada Santista Kelly fez um grupo nas redes sociais para divulgar seu trabalho na Baixada Santista - Foto: Reprodução / Facebook

Já se passaram quatro anos desde que a autônoma Kelly Wellyd Santana, de 44 anos, começou a trabalhar catando piolhos em crianças e adultos da Baixada Santista, no litoral de São Paulo, para garantir uma renda extra no fim do mês.

Apesar de relatar sofrer preconceito com a profissão, ela resolveu postar o trabalho nas redes sociais e é assim que garante o pagamento do aluguel em Praia Grande (SP)

Mãe de uma menina e um menino, a ideia de catar piolhos surgiu pela experiência com os filhos e quando se viu diante de dificuldades financeiras. "Eu também trabalho como babá, e teve uma vez que cuidei de uma criança que estava com muito piolho. Em conversa com a mãe, ela disse que não tinha tempo para tirar e pediu a minha ajuda. Passei remédio e não funcionou, então consultei pessoas mais velhas e identifiquei uma técnica eficaz: detergente de coco", relata.

Após descobrir o uso do detergente, Kelly passou por muitas dificuldades financeiras e decidiu investir na área. "Eu fiquei pensando qual poderia ser minha saída, estava passando por necessidades em casa e só o trabalho de babá não estava dando conta, então pensei em catar piolho", relembra.

O biólogo Júlio Vianna Barbosa, pesquisador do Laboratório de Educação em Ambiente e Saúde do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), explica que os piolhos são pequenos insetos que parasitam o homem e provocam uma doença chamada pediculose. Eles se alimentam exclusivamente de sangue, preferem ambientes quentes, escuros e úmidos e depositam seus ovos nos fios de cabelo.

O especialista afirma que a transmissão não está relacionada à falta de higiene e que, independentemente de renda, sexo ou idade, qualquer pessoa pode ter piolho, desde que não esteja atenta ao compartilhamento de objetos de uso pessoal

O biólogo também destaca que a transmissão pode ocorrer de duas maneiras: por meio do contato direto, encostando cabeças para tirar uma fotografia, por exemplo, ou pelo compartilhamento de objetos de uso pessoal, como pentes e escovas, prendedores e lenços de cabelo, bonés, capacetes, travesseiros, entre outros. De acordo com ele, a melhor forma de se eliminar os piolhos é por meio do uso diário de pente fino.

E é exatamente o pente fino a principal ferramenta de trabalho da autônoma. Segundo relata, ela começou a divulgar o trabalho apenas entre conhecidos, mas recentemente teve coragem de publicar nas redes sociais.

"Eu falava para vizinhos, que comentavam com outras pessoas e assim surgiam mais trabalhos, mas pensei que na internet eu teria mais alcance. O difícil é que muitas pessoas têm preconceito e zombam, mas é um trabalho de respeito. Já me disseram que é nojento, para eu arrumar um emprego melhor, mas não vejo problema, acho um trabalho digno, e me ajuda, faço com respeito e carinho pelas crianças. Às vezes a mãe trabalha o dia todo e não consegue ajudar o filho, ou já tentou diversas coisas que foram ineficazes. Então acho um serviço honesto, como outro qualquer", destaca.

De acordo com Kelly, além do uso de detergente de coco, o seu segredo é a paciência e carinho com os clientes. Os atendimentos são feitos à domicílio e o preço varia entre R$ 50 e R$ 100, dependendo da cidade, ou seja, do valor do transporte, da quantidade de cabelo e do tempo que levará para concluir o serviço

“Muitas pessoas também têm vergonha em contratar. Porque muitos julgam que se ter piolho fosse algo sujo, só que piolho gosta de cabelo limpo e é passado de cabeça em cabeça. Por isso eu garanto um trabalho eficaz que, claro, tem que ser mantido pelo cuidado da mãe. É um desafio, mas me garante uma renda extra no fim do mês. Eu chego na cliente de manhã e de tarde a cabeça dela já tá limpa, sem piolhos" finaliza.

Fonte: G1 Santos

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