Saúde

Após 15 anos, dengue tipo 3 reaparece e acende alerta da Fiocruz

Pelo fato de estar ausente há muito tempo, o número de pessoas vulneráveis a este sorotipo é muito grande e se voltar a circular, há risco de epidemia grave

11 MAI 2023 - 15h:53 Por Redação/EC
Foto: Divulgação

O ressurgimento recente de casos de sorotipo 3 do vírus da dengue, doença transmitida pela picada do mosquito Aedes aegypti, preocupa especialistas sobre os riscos de uma nova epidemia causada por esse sorotipo viral após 15 anos.

Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), coordenado pela Fiocruz Amazônia e pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), divulgado nesta quarta-feira, 10, revela que quatro casos da infecção foram registrados neste ano, sendo três em Roraima, na região Norte, e um no Paraná, no Sul do País.

"Neste estudo, fizemos a caracterização genética dos casos de infecção pelo sorotipo 3 do vírus dengue. É um indicativo de que poderemos voltar a ter, talvez não agora, mas nos próximos meses ou anos, epidemias causadas por esse sorotipo", afirma o virologista Felipe Naveca, chefe do Núcleo de Vigilância de Vírus Emergentes, Reemergentes e Negligenciados da Fiocruz Amazônia e pesquisador do Laboratório de Arbovírus e Vírus Hemorrágicos do IOC/Fiocruz.

O vírus da dengue possui quatro sorotipos, em geral, denominados DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. Quando uma pessoa é infectada por um dos quatro sorotipos, torna-se imune a todos os tipos de vírus durante alguns meses e posteriormente mantém-se imune, pelo resto da vida, ao tipo pelo qual foi infectada.

No entanto, caso volte a ter dengue, um dos outros três tipos do vírus que ainda não contraiu, poderá apresentar ou não uma forma mais grave. A maioria dos casos de dengue hemorrágica ocorre em pessoas anteriormente infectadas por um dos quatro tipos de vírus.

"O risco de uma epidemia com o retorno do sorotipo 3 ocorre por causa da baixa imunidade da população, uma vez que poucas pessoas contraíram esse vírus desde as últimas epidemias registradas no começo dos anos 2000. Existe ainda o perigo da dengue grave, que ocorre com mais frequência em pessoas que já tiveram a doença e são infectadas novamente, por outro sorotipo", alerta a entidade.

A realização da pesquisa contou com a parceria dos Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacens) de Roraima e do Paraná, além da participação de especialistas de diversas instituições de pesquisa. Conforme a Fiocruz, os resultados da análise foram divulgados em artigo preprint, sem o processo de revisão por pares, na plataforma medRxiv. O trabalho foi submetido para publicação em periódico científico.

De acordo com o estudo, as análises indicam que a linhagem detectada foi introduzida nas Américas a partir da Ásia, entre 2018 e 2020, provavelmente a partir do Caribe.

"A linhagem que detectamos do sorotipo 3 não é a mesma que já circulou nas Américas e causou epidemias no Brasil no começo dos anos 2000. Nossos resultados mostraram que houve uma nova introdução do genótipo III do sorotipo 3 do vírus da dengue nas Américas, proveniente da Ásia. Essa linhagem está circulando na América Central e recentemente também infectou pessoas nos Estados Unidos. Agora, identificamos que chegou ao Brasil", afirma Naveca.

Dos quatro casos analisados, três são referentes a casos autóctones de Roraima, ou seja, de pacientes que se infectaram no Estado e não tinham histórico de viagem. Já o caso no Paraná foi importado, diagnosticado em uma pessoa vinda do Suriname, país localizado na costa nordeste da América do Sul.

Segundo a Fiocruz, os casos foram inicialmente identificados pelos Lacens de Roraima e Paraná, respectivamente. Também foram feitas análises junto ao Instituto Evandro Chagas no Pará e ao Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) - unidade Porto Rico, além do departamento de saúde do Estado da Flórida.

"Foram as equipes do CDC de Porto Rico, e do departamento de saúde da Flórida, que identificaram os casos vindos de Cuba e nos Estados Unidos. Assim, esse é um alerta válido não só para o Brasil, mas para toda a região das Américas", afirma o virologista.

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