Saúde

Brasil tem mais de 4 mil suspeitas de alterações devido à zika

12 AGO 2017 - 05h:41 Por Valdeir Simão e Youssef Nimer
Especialista observa exame de imagem de um bebê com microcefalia em hospital do Recife, em foto de 26 de janeiro de 2016 Especialista observa exame de imagem de um bebê com microcefalia em hospital do Recife, em foto de 26 de janeiro de 2016 - Foto: Reprodução TV Globo

Desde de que os casos de zika e microcefalia explodiram no Brasil, a confirmação da relação entre a malformação e o vírus ocorreu em 20% das suspeitas enviadas ao governo. Neste ano, a taxa é de 9,3% -- são 4.221 notificações e 391 confirmações. O que dificulta que seja confirmado o diagnóstico das alterações no crescimento e desenvolvimento causado pelo vírus da zika?

De acordo com o Ministério da Saúde, já é esperado que as investigações levem um certo tempo para serem concluídas. Deve-se considerar que diversos exames precisam ser feitos para a efetividade do diagnóstico, incluindo de imagem e laboratoriais.

Sequência ideal

Os médicos Antonio Bandeira, coordenador do Comitê de Arboviroses da Sociedade Brasileira de Infectologia, e Marco Aurélio Palazzi Sáfadi, da Sociedade Brasileira de Dengue/Arboviroses explicam que, para garantir uma confirmação de que as alterações no crescimento e desenvolvimento normal do bebê foram causadas definitivamente pela zika é necessário um conjunto de informações e, às vezes, um cenário ideal.

O primeiro passo para a detecção da influência do zika durante a gestação é o diagnóstico de que a mãe realmente foi infectada. Para isso, a mãe precisa desenvolver os sintomas e, então, fazer os exames necessários -- sorológico e molecular (chamado de PCR).

"Se você tem a informação durante a gravidez, já no momento em que a mãe está com o vírus, é mais fácil. Mas, muitas vezes, a infecção é silenciosa e não tem sintomas", diz Sáfadi.

Depois, caso a infecção seja detectada, é preciso acompanhar o crescimento do feto e seu desenvolvimento. O ultrassom pode ajudar a ver se há algum problema. Os médicos chamam a atenção para a importância do pré-natal.

"O médico obstetra acompanha as medidas do bebê, como o padrão para crescimento, o desenvolvimento do Sistema Nervoso Central, assim como alterações dentro do crânio. Esse acompanhamento é feito uma vez por mês. Em uma criança que vai até o final da gestação e não apresenta nada disso, é muito pouco provável que tenha sido afetada pelo zika”, explicou Bandeira.

As dificuldades

Como aponta Sáfadi, muitas vezes a mãe é assintomática -- é infectada pelo zika, mas não sentiu uma febre que seja. A suspeita vai surgir, muitas vezes, quando o vírus nem está mais no organismo da gestante, mas só quando o bebê passa a apresentar as malformações.

Sem a possibilidade de fazer o teste em PCR e/ou sorologia e confirmar a infecção durante a gravidez, surgem diversas possibilidades: existem outras doenças que causam as mesmas alterações no feto, como a sífilis, a toxoplasmose e a infecção por citomegalovírus.

"A gente sabe que a microcefalia pode ter várias causas. As possibilidades são muito variadas. Outros casos têm a ver com malformações congênitas, hereditárias, e outras situações têm a ver com outras infecções como sífilis", avalia Bandeira. O médico diz, no entanto, que o número dos casos de microcefalia aumentou muito após o início da zika, e que não se pode acreditar que o índice inferior de confirmações está inteiramente ligado a outras doenças.

"Uma coisa eu garanto: são 4 mil suspeitas neste ano, com certeza não é outra causa que está por trás disso. Um número bastante significativo é zika”, diz.

A importância do cordão umbilical

Se o bebê nasceu sem a realização das etapas anteriores (detecção do vírus na mãe e o pré-natal) -- cenário comum em algumas partes do país --, os médicos chamam a atenção para a importância de detecção do vírus no momento do nascimento.

"É um momento oportuno para você colher o exame. Mesmo assim, a amostra pode não ser conclusiva. Nem sempre a coleta do cordão umbilical vai conseguir identificar o vírus", explica Sáfadi.

Bandeira lembra que, mesmo que os exames sejam feitos na mãe e no bebê, na gestação e no cordão umbilical, muitos estados não têm acesso ao PCR, apenas à sorologia. Segundo ele, o molecular é mais preciso e seguro, enquanto a sorologia pode dar um "falso positivo" ou não acusar o vírus.

"A grande maioria dos casos não vai ter uma confirmação, mas terão o zika. Por questões também de infraestrutura, que o próprio Ministério deveria estar equipando", questionou o infectologista.

"Você não precisa liberar o teste molecular em todas as maternidades do Brasil. Mas você pode ter um sistema de coleta, armazenamento do material e envio para um laboratório central público que faça o teste molecular em cada estado".

Fonte: Bem Estar

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