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Vinde a mim as criancinhas. A cruzada das crianças

23 FEV 2021 - 12h:41 Por Redação/ Talyta Rodrigues

A cruzada das crianças, de 1212, é um episódio medieval difícil de explicar. Sabe-se pouco sobre ela. Os historiadores tem dificuldade de determinar o que de fato ocorreu. Em linhas gerais, multidões de crianças deixaram os territórios da França e da Alemanha e caminharam até a Itália. Queriam embarcar em navios e chegar à Jerusalém, a Terra Santa. Pensavam que conseguiriam libertá-la dos muçulmanos. Era um delírio. Provavelmente, os peregrinos infantis era liderados por duas crianças: um tal Stephen, francês, e um tal Nicolas, alemão, que recebiam inspiração divina.

Crianças pobres entrando descalças pela Europa.

A ideia é irresistível: uma multidão de crianças pobres entrando descalças pela Europa, movidas por um fervor religioso, pela vontade de realizar aquilo que os líderes adultos do Ocidente foram incapazes de concretizar. Alucinavam, ouviam vozes, pensavam que poderiam andar sobre as águas do mar. Salvariam o cristianismo.

Perigo à vista!

A ideia é imensamente perigosa. As crianças foram enganadas pelos bandidos ocidentais. Sequestradas, foram vendidas para os orientais. Em vez de libertar a Terra Santa, perderam a própria liberdade. A liberdade de mendigar nas ruas das cidades da França e da Alemanha. Subitamente, viram-se "livres" das famintas crianças, sonho de 10 em cada 10 prefeitos brasileiros.

Expuseram a incompetência dos adultos.

Elas são as protagonistas ideais para uma história. Inocentes e vulneráveis, crentes e puras, carregavam cruzes pelas estradas de uma Europa pobre. Expuseram a incompetência dos adultos, como até hoje continuam expondo. O papa Inocêncio III lamentou que "todas essas crianças serão levadas à perdição", mas nada fez para detê-los e mudar o rumo de suas vidas. Um goliardo, um clero andarilho, tem medo das crianças, conta a história. Um leproso quer maltratá-las. Os padres as condenam. Mas nenhum adulto procura demovê-las do intento com fim previsto.

Atual, com sinal invertido.

A história continua atual. Não só mostra as mazelas das cidades como trás uma realidade chocante. Agora, quem está pobre é o Oriente. A Europa fez-se rica. Milhares de crianças, refugiadas da pobreza extrema e dos conflitos do Oriente Médio, tentam cruzar o Mediterrâneo. Entrar na Europa. Sair do inferno e chegar ao Paraíso. Como as brancas crianças da cruzada de 1212, as negras do século XXI, também desaparecem no mar.

Mário Sérgio Lorenzetto – Campo Grande News

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