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Choque de peixe-elétrico da Amazônia pode acender lâmpadas e até matar cavalo; entenda

No Sul do Amapá, jovem de 18 anos está internado há 4 dias com paralisia em metade do corpo, após ser atacado por poraquê em cidade alagada.

3 MAI 2022 - 14h:26 Por Redação/TR
Cientista analisou a voltagem e os hábitos alimentares do animal nos anos de 2019 e 2020, respectivamente. Cientista analisou a voltagem e os hábitos alimentares do animal nos anos de 2019 e 2020, respectivamente. - Foto: ICMBio/Divulgação

O peixe-elétrico que atingiu um jovem e o deixou internado com metade do corpo paralisado no Sul do Amapá é também conhecido como poraquê, nativo da região amazônica, encontrado em áreas alagadas e pode atingir uma tensão de 650 a 860 volts, dependendo da espécie. Electrophorus voltai e Electrophorus varii foram as espécies descritas mais recentemente por cientistas, em 2019. Elas emitem uma voltagem altamente perigosa, com impacto capaz de acender lâmpadas e até matar um cavalo.

A espécie tem hábitos noturnos e costuma se alimentar de outros peixes, alguns mamíferos e até insetos. Dessa forma, quando os estímulos nervosos do animal são transformados em eletricidade, a descarga emitida pode ser fatal a seres humanos.

Apesar da alta voltagem, o animal não é capaz de emitir energia suficiente para ligar aparelhos e eletrodomésticos. As espécies geram pulsos elétricos e não correntes contínuas, necessárias para utilizar a tecnologia. Por isso, as baixas amperagens conseguem apenas acender lâmpadas.

Lucas Rocha Oliveira, de 18 anos, foi internado há 4 dias no Hospital Estadual de Laranjal do Jari após dar entrada no local vítima de um ataque de poraquê. A informação do acidente e do quadro de saúde foram confirmadas ao g1 pela diretora do hospital a partir de relatos de familiares.

Testemunhas acreditam que o animal surgiu na área urbana devido às fortes chuvas que atingem o município desde março, causando o aumento no nível do Rio Jari, o principal da região e que nos últimos dias atingiu uma marca histórica, superando os 3 metros, alagando a maioria dos bairros.

O g1 não conseguiu contato com a família da vítima até a publicação desta reportagem. Arailza Martins, diretora do Hospital Estadual de Laranjal do Jari (Helaja), informou que Lucas será encaminhado nesta terça-feira (3) para atendimento neurológico na capital Macapá, distante 265 quilômetros.

Vídeo divulgado nas redes sociais mostra a família levando Lucas em uma canoa até a unidade de atendimento, onde deu entrada na sexta-feira (29). As imagens mostram o menino em estado de choque, com parte do corpo tremendo.

Ainda segundo a diretora do hospital, o quadro é estável, mas o jovem apresenta uma condição chamada de "hemiplegia", uma paralisação que atinge um lado do corpo, impedindo a movimentação dos membros. No caso de Lucas, a região atingida foi o lado esquerdo.

O que diz o especialista?

Raimundo Nonato Gomes, analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e especialista em pesquisas sobre os poraquês, explicou que possivelmente o animal estava no local por conta da cheia do rio.

"O poraquê finaliza o período reprodutivo quando há inundações, já que os ninhos são submersos e ele respira ar. Dessa forma, não há local para que ele faça o ninho, então a tendência é que ele fique forrageando [procurando] em busca de comida. O poraquê acompanha o alagamento para caçar a alimentação", explicou Raimundo.

Ainda segundo o cientista, o animal costuma atacar e se defender de possíveis predadores. Para isso, pode lançar dois tipos de sinais elétricos: o mais fraco, utilizado para se localizar no ambiente e para a comunicação com outros animais da mesma espécie; e o mais forte, aplicado em presas e ataques a predadores.

"Os seres humanos são vistos como inimigos, entãoe le se defende. Nós que estamos no território deles. [...] Foi um acidente, com a enchente, a área de vida dos humanos se sobrepôs a dos poraquês, então ele se defendeu com a descarga elétrica. Normalmente eles usam as laterais alagadas dos rios para se alimentar, no período da cheia", afirmou Gomes.

O cientista estima que o animal que atacou o jovem tenha sido um macho, já que segundo os relatos das testemunhas ao hospital, o poraquê tinha aproximadamente 2 metros de comprimento e as fêmeas não chegam a tamanhos grandes como esse.

Laura Machado, g1 AP — Macapá

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