Quanto vale um sonho? Com apenas 14 anos e uma garra de gente grande, o judoca João Victor, morador da cidade de Coxim, distante 251 quilômetros de Campo Grande, conquistou vaga no Campeonato Brasileiro de Judô, na categoria Sub-15 ‘super pesado’, que acontece em outubro, em João Pessoa (PB).
Vice-campeão regional e campeão estadual, o atleta sul-mato-grossense carrega no tatame não só o sonho de ser destaque nacional e trazer a medalha para casa, como também as batalhas fora dele, incluindo a falta de recursos para seguir nas competições.
De família humilde, a empregada doméstica Andreia da Silva Borges, de 36 anos, corre contra o tempo para conseguir recursos para que o filho possa realizar mais essa etapa do sonho. “Ele está muito feliz e esperançoso, estou tentando fazer de tudo pra ele conseguir ir nesta viagem”, declara.
João é aluno da Associação Mintaikan Judô, um projeto social coordenado pelo sensei Rafael Martins, que atende crianças e adolescentes da comunidade do bairro Piracema. Com auxílio da Associação, a família decidiu abrir uma vaquinha on-line para arrecadar o dinheiro da competição. “Essa competição é um trampolim. Para um atleta carente como o João Victor, pode significar a passagem de uma promessa local para um nome de destaque nacional”, afirma o professor.
Adolescente se destacou em diversas competições
João Victor é Vice-campeão Brasileiro da região IV, realizado em Ji-paraná (RO) e garantiu a vaga no Campeonato Brasileiro ao ser o segundo colocado do ranking estadual, que deu ao atleta o direito de participar de uma seletiva estadual, na qual se consagrou campeão.
O caminho repleto de vitórias, no entanto, segue sendo cheio de percalços. Para conseguir manter o filho nas competições, Andrea cita que ‘faz o que pode’, com o pouco que tem, às vezes buscando ajuda e doações de conhecidos.
“Somos de família humilde, e tento buscar o que é o melhor para ele. Recentemente, ele participou do campeonato que teve em Ji-Paraná. Ele conseguiu o transporte, a viagem e a hospedagem, aí ficou pra mim bancar a alimentação. Como eu tinha férias vencidas, acabei vendendo minhas férias, para ajudar ele, é tudo para ele”, declara a mãe.
Apesar das dificuldades financeiras para adquirir as vestimentas tradicionais do esporte, custear viagens e pagar inscrições em campeonatos, João nunca desistiu do sonho. Com apoio da mãe, Andreia, o atleta conseguiu se destacar em todas as competições que participou, além de ter conquistado várias medalhas, conforme detalha o professor do atleta, Rafael Martins.
“João Victor é um atleta extraordinário, um verdadeiro guerreiro dentro e fora do tatame. Ele treina todos os dias com disciplina, foco e determinação, sempre buscando evolução em cada detalhe. Nas competições, ele demonstra não apenas técnica, mas também garra, coragem e espírito esportivo, qualidades que fazem dele um exemplo para outros jovens da comunidade”, descreve o professor.
Competição pode ser divisor de águas na vida do atleta
Segundo o professor Rafael Martins, o Campeonato Brasileiro de Judô reúne os melhores atletas de cada Estado, além de ser o maior torneio de base do país. Para os atletas, apenas participar já é uma conquista muito relevante, porém, pode ser um divisor de águas, principalmente para um atleta de baixa renda.
“O desempenho nesse tipo de evento é acompanhado por técnicos da Confederação Brasileira de Judô. Atletas que se destacam podem ser observados para futuras convocações de seleções de base. Estar no cenário nacional fortalece a imagem do atleta, abrindo portas para futuros apoiadores, bolsas-atleta e projetos de incentivo ao esporte”, destaca Rafael.
Além disso, o professor destaca que competir contra judocas de alto nível acelera o aprendizado, aumenta a confiança e dá experiência que nenhum treino pode oferecer. “Não é todo jovem que consegue chegar ao nível de ser convocado para um Brasileiro. É um divisor de águas: pode ser o início de uma carreira esportiva sólida, com convocações futuras e até oportunidades de representar o Brasil em competições internacionais”, enfatiza.
Sobre o projeto
João Victor frequenta às aulas de judô graças ao projeto social da Associação Mintaikan Judô, associada à FJMS (Federação de Judô de Mato Grosso do Sul), que fica no bairro Piracema, em Coxim. O projeto foi fundado pelo sensei Rafael Martins, e surgiu após ele sofrer um acidente e perder, parcialmente, a visão, fazendo com que o para-atleta voltasse seus interesses a ações sociais.
A Associação oferece aulas gratuitas de judô para dezenas de crianças e adolescentes da comunidade. Graças a parceria com a FJMS, os atletas do projeto podem participar de competições oficiais, com a oportunidade de crescer dentro do esporte. O espaço utilizado para os treinos foi cedido pela Prefeitura de Coxim, e todo o trabalho é realizado de forma voluntária.
“Devido às dificuldades financeiras, o projeto tem conseguido participar de poucos torneios e com poucos atletas, já que não há apoio fixo para custear transporte e inscrições. Em muitas ocasiões, um dos auxiliares, que também é pai de atleta, disponibiliza seu carro particular para levar os jovens competidores, permitindo que, mesmo com tantas barreiras, alguns ainda consigam representar Coxim e o projeto nas competições. A cada medalha conquistada, a cada campeonato disputado, a chama da esperança se renova. Para esses jovens, o tatame se tornou um lugar onde sonhos podem se tornar realidade”, finaliza Rafael.
Como colaborar
A mãe do atleta, junto da equipe do projeto social, decidiu abrir uma vaquinha on-line, com a missão de arrecadar o valor necessário para custear as despesas com passagens, hospedagem e alimentação. Quem puder contribuir, basta clicar aqui.
Andreia Borges, mãe do João Victor, também organizou uma Rifa Solidária, no valor de R$ 10,00 cada número, com prêmio de R$ 200,00 para o ganhador. O sorteio será pela Loteria Federal após o preenchimento da cartela.
Para participar e colaborar, escolha um número disponível de 1 a 300. O pagamento deve ser feito via PIX - chave: 043.229.861-45 em nome de Andreia da Silva Borges. Envie o comprovante com nome e contato para (67) 9 9971 8620.
Idaicy Solano-Midiamax/Redação Diário X