Arte, terra, espiritualidade e natureza são elementos que sempre estiveram presentes na vida de Clarice Silva Lima, de 66 anos. Mas foi na cerâmica que ela encontrou um propósito, e um meio de expressar sua ancestralidade na arte. Ceramista há quarenta anos, pode até dizer que dedicou mais de metade da vida à atividade.
Moradora da cidade de Rio Verde do Mato Grosso, no interior do Estado, ela relata que escolheu a cidade por causa da argila, que além de ser abundante na região, tem boa qualidade. Isso porque ela utiliza de quase todos os elementos que a terra dá para fazer seus trabalhos.
A personalidade de Clarice reflete até na casa de madeira onde ela mora, que é cheia de plantas, pinturas e decorações feitas por ela. Mulher de espiritualidade forte, Clarice explica que as esculturas de máscaras penduradas na parede representam a cultura afrodescendente, e servem para afastar maus espíritos na cultura africana.
“Eu me considero espiritualista, Na minha opinião, o que importa é espalhar amor e caridade, não fico presa a nenhum dogma”, acrescenta Clarice.
As paredes da casa foram pintadas com tons suaves de marrom, extraídos, literalmente, da terra, e decoradas com garrafas de vidro que ela recicla. Também fazem parte da decoração vários itens de cerâmica feitos por ela, que são finalizados com a tinta feita à base de terra.
Clarice explica que para criar a tonalidade das paredes, a tinta é feita deixando a terra de molho na água, e o processo envolve coar até ficar bem fina. Ao final do processo, a tinta fica com consistência em pó, que é misturada com óleo de linhaça e cola branca para aderir à parede.
“Gosto muito de trabalhar com engobe, e estou fazendo uma pesquisa nesse sentido. Já consegui fazer uma paleta com cinco tons diferentes”, comenta a ceramista.
História com a cerâmica
Clarice conta que seu primeiro contato com a cerâmica foi durante sua estadia na cidade de Xerém, no Rio de Janeiro, ao acompanhar o ex-marido em um trabalho. Clarice relata que ficou encantada com a oficina, e assim nasceu sua vontade de trabalhar com isso. Aos 18 anos, começou a fazer bijuterias, depois passou para peças maiores, incluindo figuras religiosas, a fauna do pantanal e vasos de planta.
Nesses quarenta anos, aprendeu a modelar até flores com argila, mas revela que o que realmente gosta de fazer, é expressar sua ancestralidade através de suas criações, por meio das máscaras da cultura africana.
No interior do Estado, Clarice é bastante conhecida entre os artesãos, pois além de seu trabalho, ela ainda ministrou diversas oficinas de cerâmicas em encontros e eventos culturais. Ela já compartilhou seus conhecimentos em Furnas do Dionísio, Piraputanga, Corguinho, e até na cidade de Valença, no Estado da Bahia.
Sua próxima oficina deve acontecer em um encontro de ceramistas, previsto para acontecer no final deste mês em Coxim. Lá, ela irá ensinar a fazer diversos tipos de flores utilizando a argila.
Sobre passar seus conhecimentos adiante, Clarice declara que compartilhar conhecimento é fundamental, até mesmo como uma forma de deixar um pedaço de seu trabalho nesse mundo. “Qualquer hora eu tenho que ir, e meu trabalho tem que continuar”, finaliza.
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