Rio Verde de Mato Grosso MS

Em caso raro, moradora de Rio Verde  está grávida de gêmeas siamesas unidas pelo tronco

Luciana Sentene, 38 anos, vive em Rio Verde de MT/MS, a 205 km de Campo Grande, e precisa de ajuda

20 DEZ 2023 - 06h:24 Por Redação/EC
Luciana Sentene é moradora de Rio Verde de MT/MS. Luciana Sentene é moradora de Rio Verde de MT/MS. - Foto: Carlos Ferreira

Grávida de cinco meses, Luciana Sentene, 38 anos, moradora do município de Rio Verde de Mato Grosso, a 205 km de Campo Grande, encara uma jornada cheia de emoções e desafios. A balconista foi surpreendida durante o pré-natal de rotina que está esperando gêmeas siamesas "grudadas" pelo tronco.

A situação se torna ainda mais rara e complexa, principalmente devido às complicações cardíacas em que às bebês enfrentam, compartilhando um único coração. Luciana descreve o choque inicial ao descobrir sobre a gravidez incomum: "A princípio, fiquei assustada, sem acreditar. É um caso raro, principalmente na parte cardíaca, que é vital para a sobrevivência”, lamenta.

Ela relembra que ao receber a informação dos médicos, decidiram realizar exames mais detalhados para confirmar a situação. “Nunca esperávamos enfrentar algo tão raro. Geralmente, casos assim são vistos em notícias internacionais, filmes, novelas, mas com pouca freqüência no Brasil. Na verdade, é uma ocorrência extremamente rara, especialmente considerando as complicações cardíacas. Agora, estamos nos preparando para explorar mais a fundo e entender o desenvolvimento dessa condição”, explica.

Segundo um levantamento divulgado em outubro deste ano, casos de gêmeos siameses são raros: foram pouco mais de 500 nascimentos, nos últimos 11 anos, no Brasil. Globalmente, especialistas estimam que a cada 100 mil nascimentos, um envolve bebês que compartilham partes do corpo, como coração ou cérebro. 

Infelizmente, muitos desses bebês não sobrevivem ao primeiro ano de vida. Aqueles que sobrevivem, mas não podem realizar a cirurgia de separação, enfrentam o desafio de viver com as limitações de estar “grudado” a outra pessoa.

Luciana já é mãe de um adolescente, 13 anos e de uma menina, 6 anos, e aborda a situação com uma mistura de cautela e esperança, especialmente ao explicar a situação para as crianças.

“Abordei o assunto com cautela ao falar com meu filho mais velho, explicando a situação de forma adequada. No entanto, optei por não entrar em detalhes com minha filha mais nova. Por ser ainda muito pequena, acredito que não seja benéfico expor ela a uma situação tão complexa, que ela provavelmente não entenderia de forma tão fácil”, explica.

A gestação não seguirá o curso normal de nove meses, e o parto deverá ser feito em torno das 32 semanas. "Será um pouco prematuro. A esperança sempre existe, mas há várias hipóteses a considerar", explica Luciana, que ainda aguarda detalhes sobre o procedimento e os cuidados pós-natais.

Com a situação se tornando cada vez mais desafiadora, Luciana e sua família iniciaram uma campanha por apoio financeiro. "Meu marido e eu trabalhamos, mas nossos rendimentos são limitados. Os gastos pós-cirúrgicos serão significativos", ela compartilha. A família está organizando uma vaquinha virtual e um almoço beneficente em Rio Verde para arrecadar fundos necessários.

“Agora, estamos enfrentando desafios financeiros, pois tanto eu quanto meu marido trabalhamos, mas nossa renda é baseada no salário mínimo. Os custos, especialmente os pós-cirúrgicos, serão significativos. Mas estamos ampliando o alcance do nosso pedido de ajuda, pois vamos precisar de suporte", esclarece. 

Procurado pela reportagem, o médico-obstetra responsável pelo caso, Arnon Lemes Vilela, afirma que o planejamento é levar a gestação até aproximadamente 34 semanas, para garantir a melhor viabilidade para as bebês e a paciente.

“Do ponto de vista obstétrico, podemos manter a gestação aqui sem problemas. No entanto, o desafio está na análise futura dos bebês, considerando que são unidas pelo tronco e pela parede abdominal. A preocupação maior é a união pelo tronco, pois, segundo o ultrassom morfológico, elas compartilham o mesmo coração, apesar de não compartilharem órgãos vitais pela parede abdominal”, detalha.

O profissional explica que será necessário avaliar a anatomia das gêmeas para entender se é possível a separação. “Infelizmente, existe uma baixa probabilidade de uma separação bem-sucedida, pelo menos não de uma forma que permita a sobrevivência das duas. Uma operação dependeria de um transplante de coração, o que requer uma análise aprofundada sobre a viabilidade de formação de vasos adequados. É um caso bastante delicado e fora do comum”, ressalta.

Sobre a possibilidade de sobrevivência de uma, o médico esclarece que isso só será possível saber após o nascimento das meninas.

“Temos algumas opções em vista, mas tudo dependerá da anatomia específica dos bebês e de suas condições ao nascer. Faremos uma consulta com o Conselho Regional de Medicina (CRM/MS) para determinar os limites de nossa atuação. A decisão será tomada por uma equipe multiprofissional com orientação do CRM, focando na melhor abordagem intrauterina”, diz.

Ainda conforme o médico, neste momento não é possível priorizar uma das gêmeas, pois elas compartilham o mesmo cordão umbilical. “A ultrassonografia morfológica mostra claramente que um único cordão se bifurca na união da parede abdominal, indicando que o que alimenta um bebê também alimenta o outro. Portanto, qualquer intervenção específica agora é arriscada. Após o nascimento, entraremos em uma nova fase de estudo para avaliar a viabilidade e possíveis procedimentos, sempre considerando a saúde das duas, dos pais e da família como um todo”, finaliza.

Como isso acontece?

A gestação de gêmeos ocorre quando, no momento da formação do feto, o espermatozoide e o óvulo se dividem de maneira que resultam em dois bebês.

Essa divisão, dependendo de como acontece, pode levar a diferentes tipos de gestações gemelares. Se a divisão ocorre logo no início, aproximadamente até o sexto dia após a fecundação, normalmente resulta em duas cavidades gestacionais distintas, com saquinhos gestacionais e placentas separados, conhecidos como gestação dicoriônica e diamniótica.

Quando a divisão ocorre mais tarde, especialmente após o 12º dia, a separação pode ser imperfeita, levando à formação de gêmeos siameses ou xifópagos. No caso de Luciana, a divisão que formou as estruturas resultou em gêmeas unidas pelo tronco.

Em uma separação tardia, os dois corações não se formam e separam completamente, resultando na união dos bebês. Gêmeos siameses podem se unir de várias formas: pela cabeça, tronco, barriga, lado ou braço. Assim, há várias possibilidades de união, dependendo do momento e da maneira como ocorre a divisão embrionária.

Quer ajudar a Luciana de alguma forma? A chave do Pix da paciente é: 02100973100 - Luciana Maria da Silva Sentene.

Carlos Ferreira de A Crítica com colaboração de Celso Daniel do Rio Verde News.

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