A escola e o tal assunto "delicado"
Fui convidado para falar a estudantes do Ensino Fundamental a respeito da violência de gênero. Fui, desde o início, orientado a "tomar cuidado", pois o assunto é "delicado". Fui acometido de uma inquietude: o que faz que um assunto seja "mais delicado" que outros.
A resposta a isso deve ao fato de que falar de gênero é tocar diretamente na questão da sexualidade e, de modo extensivo, na orientação sexual. Assuntos estes constituintes da pauta diária dos jovens adolescentes, mas que educadores narnianos insistem em pensar que, no âmbito da escola, o assunto não pode ser pautado.
Pensar desse modo é perder uma oportunidade de ouro para tratar do assunto de maneira correta. É preciso desmistificar conceitos cristalizados no imaginário popular a respeito da homossexualidade e, de modo mais abrangente, da diversidade sexual, de um modo responsável, claro e objetivo.
Não é razoável termos pessoas, por exemplo, que ainda pensem que o homossexual masculino quer ser mulher. Ouvi uma pessoa, com um razoável grau de instrução, questionar quem era o homem e quem era a mulher no relacionamento homoafetivo.
Desconstruir esses conceitos cristalizados numa cultura machista e heteronormativa é tambem função da escola. Mas, o que se percebe é que a instituição escolar se esquiva desse papel e, assim fazendo, contribui para a perpetuação de uma imagem equivocada da diversidade tanto de gênero quanto da orientação sexual.
Os tais "assuntos delicados" que a escola diz, só assim o é porque o vemos dessa forma. Quando passarmos a ver naturalidade nos assuntos a que todos têm interesse é possível construirmos, por meio do diálogo, uma sociedade mais assertiva quanto aos valores que, muitas vezes, pregamos mas, na prática, não desenvolvemos.a