COLUNA

Valdir Silva

A falsa retórica da empatia

23 JAN 2023 - 12h:50 Por Valdir Silva

Psicologicamente, empatia é a capacidade de você sentir o que uma outra pessoa sente caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela, ou seja: procurar experimentar de forma objetiva e racional o que sente o outro a fim de tentar compreender sentimentos e emoções. 

A palavra empatia foi bastante utilizada no período da pandemia da Covid-19. Muitos chegavam a usá-la sem mesmo conhecer seu significado. A utilização foi tão grande que ela se cristalizou como um termo acessório para quase tudo. Isso apenas no campo da retórica. No âmbito da prática, ela continua no ostracismo onde sempre esteve. 

A demonstração prática dessa realidade pode ser revelada a partir de situações iguais a de uma senhora que, desgovernada em uma bicicleta, atingiu a bomba de combustível num autoposto de Coxim.

O vídeo circulou pelas redes sociais como se fosse uma cena de humor. Logo se especulou se a condutora da bicicleta estivesse embriagada. Pensou-se logo na pior das possibilidades. Pouco ou nada se especulou se a pessoa se machucou. O vídeo foi editado e narrado para que essa pequena tragédia ganhasse elementos típicos da comédia. Em regra, acidentes - por pequenos que sejam -  nada tem de engraçado.

Nesse cenário, a pergunta mais evidente é: onde foi para a sempre evocada empatia? É empático sentir prazer com a desgraça do outro? 

A psicologia e a psicanálise são inequívocas em assegurar que há sentimentos que conflitam diretamente com o código moral é ético. No discurso, devo assegurar a imagem do sujeito empático que preciso socialmente parecer mas, interiormente, eu me regozijo porque o outro tenha tanta desgraças quanto eu as tenho e isso nos torna igualmente desgraçados. A esta altura a empatia tornou-se mera retórica, pois o sentimento já não existe mais.

A impressão que fica é de que não existe mais sociedade. O que existe é um amontoado de gente desejando que o outro se f.... mais que eu.

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