Somos todos educadores
Há um provérbio africano que diz: "É necessário uma aldeia inteira para educar uma criança". Infelizmente, esse provérbio é pouco conhecido no Brasil em que grande parte das pessoas alimenta e reforça a crença de que a educação é dever apenas da escola e da família.
Com os novos arranjos familiares e grupamentos com funções socialmente definidas, a escola assumiu para si sozinha a função de educar, fundamentada no equívoco conceitual que equivale na mesma medida educar e ensinar.
Absolvidas as demais instituições sociais com o dever de educar, a escola enfrenta sozinha a saraivada de críticas de que seu ensino não funciona e de que a escola é uma instituição falida. Como educar valores socialmente positivos em uma sociedade controversa de valores éticos e morais? Como ensinar comportamentos eticamente saudáveis se a sociedade e a própria família reforça práticas morais questionáveis?
Assim, a criança pratica na escola os valores e comportamentos aprendidos fora do ambiente escolar. De mãos e pés atados a escola assiste a decadência social e, muitas vezes, embarca junto nessa descida ladeira abaixo.
Diferente do provérbio africano, a sociedade brasileira não é nem um pouco indulgente com a escola e seus agentes (professores, diretores, coordenadores) e colocam sobre eles o peso de que o futuro da nação depende deles. Carregando o fardo pesado de que o futuro depende dela, a escola se reinventa com conceitos que se criam para prendê-la nessa expectativa: Busca Ativa, Avanço na Aprendizagem, Recuperação Paralela, Regime de Progressão Parcial são todos exemplos de que a escola faz seu esforço para não contrariar a expectativa que dela se espera.
O professor, expoente máximo da escola, sente toda essa pressão e, por vezes, deseja que o provérbio africano se constitua a realidade da educação no Brasil. Mas, por enquanto só o salário do professor brasileiro merece ser comparado à realidade africana.